Em 2020, o mundo encontrou os desafios criados pela pandemia do Covid-19. O novo coronavírus transformou a rotina de todos os segmentos e classes sociais, afetando a todos com diferentes pesos e formas, com maior impacto para as populações vulnerabilizadas.
É nesse contexto que surge a demanda deste projeto, que se inicia como um socorro urgente às populações consideradas "invisíveis", mas se propõe a ir além. O projeto é um esforço coletivo de tentar ressignificar a conjuntura para as comunidades por meio da autonomia. Aqui, vê-se tal momento como a oportunidade de uma transformação profunda, sistêmica, utilizando-se da criatividade e da imaginação para a construção de futuros alternativos.
O projeto Comunidades Autônomas iniciou com o contato da prefeitura da cidade de Porto Alegre com o Programa de Pós-graduação de Design da Unisinos no início do período da quarentena no Brasil, em março de 2020. A demanda por soluções emergenciais foi a força motriz para a formação imediata de grupos de projeto para atingir o objetivo principal do poder executivo municipal: compreender quem eram e onde estavam localizados os cidadãos considerados "invisíveis", cujo acesso era dificultado pela falta de cadastro. Dessa forma, buscava-se tornar possível o fornecimento de renda básica emergencial e a facilitação do acesso a cestas básicas.
As expectativas delineadas no briefing da prefeitura, no entanto, foram redirecionadas ao longo dos primeiros passos. O contato com a complexidade dos problemas apresentados ao longo do processo resultaram em novos questionamentos, sobretudo relacionados à necessidade de transformação estrutural, tornando obsoletas soluções emergenciais no caso de novas crises semelhantes.
Sendo assim, a pesquisa realizada como ação emergencial prolongou-se para a criação de um cenário orientado pela metodologia do design estratégico. Os cenários são um exercício de suporte ao desenvolvimento de estratégias por meio da criação de visões compartilhadas, de visualização e comunicação de outros futuros possíveis. O design estratégico possibilita isso, pois tem em seu cerne a articulação de saberes por meio de redes projetuais, envolvendo todo o ecossistema de atuação.
O processo foi permitido pela possibilidade de experimentação das ferramentas virtuais, buscando-se em diferentes rodadas o contato com os atores do ecossistema trabalhado, de forma a ser perseguido o objetivo de um cenário construído por múltiplos olhares.
Ao final, apresenta-se um cenário capaz de conectar diferentes atores e servir como plataforma para a criação de estratégias por eles, como um ambiente aberto ao diálogo e à colaboração. As visualidades originadas - uma narrativa em texto, um vídeo e um mapa de atores - constróem pontes para um futuro denominado Comunidades Autônomas, em que se dissolvem conceitos como invisibilidade e periferia, fazendo emergir processos de transformação por e para as pessoas.